O camarão sete-barbas, Xiphopenaeus kroyeri Heller, 1862 distribui-se no
Oceano Atlântico Ocidental e é a espécie de crustáceo mais explorada pela
pesca marinha em águas costeiras brasileiras. O objetivo deste estudo é
comparar o nicho isotópico de estoques pesqueiros do camarão sete-barbas ao
longo de áreas de pesca contíguas da costa sudeste do Brasil (20ºS-22ºS) para
compreensão do padrão de utilização do hábitat e dos recursos alimentares
disponíveis. A coleta dos camarões foi realizada durante o desembarque
pesqueiro em portos localizados nos estados do Espírito Santo (ES) e Rio de
Janeiro (RJ): Vitória/ES (20º31’S; 40º30’W), Anchieta/ES (20º48’S; 40º38’W),
Atafona/RJ (2137’S; 4100’W) e Farol de São Tomé/RJ (22o02’S; 41o02’W).
Os camarões foram obtidos em junho de 2017 e amostras de tecido muscular
de 30 camarões de cada categoria de sexo (macho e fêmea) e maturidade
(adulto e juvenil) foram extraídas para determinação isotópica, totalizando 120
espécimes amostrados em cada porto. As médias das assinaturas isotópicas
diferiram entre os estoques pesqueiros analisados (P<0,001), com assinaturas
mais pesadas de 13C para Anchieta e 15N para Atafona. A amplitude de nicho
isotópico (SEA) é menor nos estoques do Rio de Janeiro (Atafona - 0,25‰² e
Farol de São Tomé - 0,27‰²) em comparação aos estoques do Espírito Santo
(Vitória - 0,61‰² e Anchieta - 0,44‰²). Isso pode refletir as variações na
disponibilidade de recursos para a espécie ao longo das áreas estudadas. A
maior diversidade trófica associada aos estoques do Espírito Santo indica
maior variedade de fontes alimentares e a utilização mais abrangente dos
recursos disponíveis. Em contrapartida, a maior redundância trófica nos
estoques do Rio de Janeiro indica que os camarões tendem a ser similares em
termos alimentares. As variações entre os estoques em relação as métricas de
nicho isotópico, incluindo a amplitude de nicho (SEA), são compreendidas a
partir de características ambientais distintas ao longo das áreas estudadas. A
disponibilidade e/ou a forma de utilização desses recursos são provavelmente
influenciadas pela presença ou ausência de áreas costeiras abrigadas (baías,
enseadas), origem e aporte de nutrientes e/ou matéria orgânica para regiões
costeiras e sua distribuição no ambiente marinho. A abordagem de nicho
isotópico permitiu distinguir os estoques pesqueiros da espécie que se
distribuem em torno de 20ºS (portos de pesca do Espírito Santo) e 21ºS-22ºS
(portos de pesca do Rio de Janeiro), e pode ser utilizada como ferramenta para
o reconhecimento da procedência (área de pesca) do produto pescado ao
longo dessa região. |