O presente estudo descreveu a presença de resíduos sólidos de origem
antropogênica em conteúdos estomacais de peixes e cetáceos carnívoros que
ocorrem na costa norte do estado do Rio de Janeiro. Pretende-se averiguar se a
área de alimentação preferencial ao longo da coluna d’água tem influência na
vulnerabilidade de ingestão de resíduos sólidos, dessa forma, verificar a hipótese
de que animais que se alimentam próximo ao fundo têm maior probabilidade de
ingerir resíduos se comparados àqueles que se alimentam próximo à superfície.
As análises consideraram o peixe de hábito alimentar pelágico Trichiurus
lepturus, os peixes demersais Genidens barbus, Aspistor luniscutis e Bagre
bagre, agrupados como família Ariidae, e os pequenos cetáceos Sotalia
guianensis, de hábito alimentar preferencialmente pelágico, e Pontoporia
blainvillei, considerado consumidor pelágico demersal. Considerando todos os
conteúdos estomacais analisados (n= 596), apenas 22 (3,7%) continham
resíduos sólidos. O tipo de resíduo mais frequente foram os plásticos. A
quantidade de resíduos em cada conteúdo estomacal foi baixa (≤ 3), e suas
dimensões (comprimento e área) variaram tanto entre espécimes do mesmo
grupo de carnívoro quanto entre os carnívoros estudados. O cetáceo P. blainvillei
apresentou o maior percentual de ingestão de resíduos sólidos, enquanto T.
lepturus, peixes da família Ariidae e S. guianesis apresentaram valores
semelhantes entre si quanto à frequência de ingestão de resíduos. O local de
alimentação preferencial na coluna de água não é o único fator que influência a
vulnerabilidade dos consumidores carnívoros à ingestão de resíduos sólidos no
norte do estado do Rio de Janeiro. A probabilidade de ingestão parece estar
mais associada a estratégias de captura de presas (ou comportamento
alimentar), independente da disponibilidade dos resíduos sólidos em seu local
de alimentação. |