Áreas urbanas são ambientes amplamente modificados, constituídas em grandeparte
por solos impermeabilizados, vegetação nativa fragmentada ou suprimida, grande
número de espécies exóticas, altas temperaturas e poluição. No entanto, as áreas
verdes urbanas (AVUs), como praças, bosques e jardins, podem ser espaços amigáveis
para as abelhas e funcionar como refúgios com condições de forrageamento e
nidificação semelhantes ao seu habitat natural. As características antrópicas alteram a
estrutura da comunidade de abelhas pela falta de recursos para alimentação e de locais
de nidificação. O objetivo desse estudo foi descrever a estrutura da comunidade de
abelhas em áreas verdes urbanas na cidade de Campos dos Goytacazes-RJ, e analisar
a influência das paisagens sobre os parâmetros dessa comunidade. Entre novembro de
2017 e outubro de 2018 foram realizadas quatro amostragens em cada uma das 14
AVUs estudadas em Campos dos Goytacazes. As abelhas visitantes florais foram
capturadas com rede entomológica por dois coletores, entre 7h e 13h, e as abelhas
Euglossini com o uso de armadilhas com iscas aromáticas instaladas entre 7h e 11h. Os
parâmetros da paisagem das AVUs e do entorno avaliados foram a cobertura de flores,
o diâmetro à altura do peito (DAP) das árvores, a área impermeabilizada das AVUs e do
entorno ea área de cobertura vegetal do entorno. As abelhas foram registradas em 84
espécies de plantas (33 arbóreas, 14 arbustivas e 37 herbáceas), das quais 46%são
exóticas. A riqueza de plantas em florescimento por área variou entre sete e 18 espécies
e valores medianos de DAP variaram entre 0,7 e 1,98cm. No total, 4342 abelhas de 41
espécies foram coletadas, sendo 82% com hábito de nidificação em cavidades
preexistentes e 12% de escavação no chão; 80% das espécies de abelhas são
generalistas quanto ao hábito de forrageioe 20% especialistas. As abelhas mais
abundantes foram: Apis mellifera (38%), Trigona spinipes (20%) e Plebeia droryana
(12%). A análise NMDS mostrou agrupamento de áreas com maior similaridade na
composição de espécies de abelhas, influenciada pelas características das AVUs como
grau de impermeabilização, DAP e proximidade geográfica. A abundância de abelhas foi
positivamente relacionada com a riqueza de plantas (R²=0,318, p<0,001), a cobertura de
flores (R²=0,452, p<0,05) e o DAP médio das árvores (R²=0,507, p<0,05). A influência da
impermeabilização do entorno foi significativa quando relacionada com a guilda de
abelhas que nidificam no solo (R²=0,359; p<0,05). A alta abundância de Apis mellifera e
de Trigona spinipes segue padrão verificado em outros trabalhos em área urbana e pode
ser explicada pelo comportamento eussocial destas espécies e hábito supergeneralista
no uso de recursos. Os resultados desse estudo corroboram outras pesquisas que
mostram a importância da riqueza de plantas e da abundância de recursos florais para a
manutenção da comunidade de abelhas nas áreas verdes urbanas nas cidades. A
presença de árvores e a disponibilidade de áreas de solo exposto também devem ser
consideradas pelos projetos paisagísticos urbanos, a fim de garantir local de nidificação
e recursos alimentares para possibilitar uma maior diversidade de abelhas em área
urbanas. |