A floresta atlântica é um dos três hotspots de biodiversidade mais vulnerável às mudanças climáticas. Predições climáticas indicam a ocorrência de eventos de seca e chuva extremos, acentuação da sazonalidade, altas temperaturas e, consequentemente, restrição hídrica sazonal. A restrição hídrica sazonal pode comprometer o metabolismo das espécies por falhas hidráulicas ou escassez de fotoassimilados, tornando as espécies mais vulneráveis a variação das condições climáticas. Assim, para lidar com as mudanças climáticas, as espécies vegetais devem apresentar configurações funcionais expressas em sua anatomia, morfologia, fisiologia e/ou ecologia, que lhes capacite tolerar extremos de temperatura e disponibilidade hídrica. O uso de determinadas estratégias garante o estabelecimento e a sobrevivência, interferindo na distribuição e abundância das espécies em seus ambientes naturais. As espécies de florestas tropicais deciduais e semideciduais já possuem estratégias para tolerar as condições restritivas do meio abiótico, sendo favorecidas nestes ambientes. Através de estudos anatômicos, ecofisiológicos, morfológicos e isotópicos de C em espécies arbóreas, o objetivo deste trabalho foi determinar se a abundância de espécies vegetais arbóreas em floresta atlântica estacional semidecidual pode ser explorada a partir de atributos do lenho (densidade da madeira e anatomia do xilema) e da folha (morfologia e razão isotópica foliar de C, δ13C). Vinte espécies arbóreas (sete mais abundantes e 13 menos abundantes) foram avaliadas para os atributos da folha e densidade da madeira. Destas espécies, três de maior e três de menor abundância foram selecionadas para análises da anatomia do xilema e análises dos atributos foliares (área foliar específica, densidade e espessura foliar). Este estudo foi conduzido com base nas seguintes hipóteses: 1) Espécies mais abundantes apresentam estruturas anatômicas do lenho mais reduzidas e de caráter mais conservativo que espécies menos abundantes, consequentemente apresentando maior densidade da madeira, 2) Espécies mais abundantes apresentam maior eficiência no uso da água em função da menor discriminação de 13C foliar que espécies menos abundantes e 3) Espécies mais abundantes apresentam menor área foliar específica e maior espessura da folha que espécies menos abundantes em função do menor tempo de abertura dos estômatos e do maior investimento em estruturas do xilema de caráter mais conservativo. Os resultados mostraram diferenças apenas no comprimento do parênquima radial entre os grupos de abundância, não havendo diferenças para outros atributos anatômicos do xilema e atributos foliares. As espécies, de maneira geral, apresentaram características anatômicas comuns a ambientes secos (florestas estacionais deciduais e semideciduais, restinga, savanas), como a alta densidade da madeira. As espécies também não apresentaram diferenças quanto a eficiência no uso da água avaliado pela δ13C. Quando os dados foram explorados a partir do hábito foliar e do estágio sucessional, a densidade da madeira foi significativamente diferente entre espécies sempre-verdes e decíduas e entre espécies secundárias iniciais e tardias. Sugere-se que as características anatômicas do lenho, δ13C e densidade da madeira são expressas em resposta ao filtro ambiental local, mas não são atributos preditores da abundância das espécies na área de estudo. Sugere-se também que o hábito foliar e o estágio sucessional sejam outros fatores influentes na abundância das espécies. Estas informações servem de base para o melhor entendimento da funcionalidade de florestas que habitualmente convivem com a restrição hídrica sazonal e poderão auxiliar em seu manejo e conservação, garantindo os serviços ambientais associados a elas. |