A bacia do rio Paraíba do Sul, localizada na região Sudeste brasileira, é historicamente marcada por desastres decorrentes de despejos de efluentes
industriais em seus rios. Interrupção do abastecimento de água e mortandades de peixe são fenômenos recorrentes desde a década de 1960, quando o processo de industrialização e urbanização se intensificou na região. Dois desastres destacam-se como os mais graves já ocorridos na bacia: o da
Paraibuna de Metais, ocorrido em 1982 e o da Cataguazes de Papel, ocorrido em 2003. O presente trabalho analisa, a partir de fontes jornalísticas, as
conseqüências de ambos na sociedade do Norte-Fluminense, à luz do conceito de drama social consagrado por Victor Turner. O estudo avalia os desastres como palcos de dramas sociais, quando rupturas, crises, reformas, reconciliações e rompimentos tornaram a poluição dos rios da bacia um
problema público. A partir do registro etnográfico, confere ao desastre da Cataguazes de Papel um ‘ponto de vista nativo’, situando os pescadores de
Gargaú, assentamento pesqueiro localizado na foz do rio Paraíba do Sul, nesse contexto dramático, recorrendo às narrativas de suas experiências em
relação à tragédia. O trabalho discute, dentro do campo de uma Antropologia Política, a vulnerabilidade ao ‘risco’ e a desigualdade social e ambiental de uma população tradicional do litoral fluminense. |