Esta é uma pesquisa sobre as razões do declínio das atividades envolvendo a agricultura da cana e da produção de açúcar e álcool em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Brasil. Este declínio é uma surpresa no contexto da valorização do etanol no Brasil e no mundo, o contexto que é principalmente explicado por danos causados ao ambiente por petróleo e seus derivados. Apesar de Campos dos Goytacazes ser uma área tradicional de produção de cana, açúcar e álcool, dez grandes usinas de açúcar encerraram suas atividades nesta cidade nos últimos 40 anos. Atualmente, existem apenas quatro indústrias deste setor em Campos dos Goytacazes. Esta pesquisa fez 37 entrevistas com atores que pertencem a quatro áreas: industrial, agrícola, os trabalhadores rurais do setor sucroalccoleiro e de pessoas da academia ou agências governamentais. Estes corpus de entrevistas revelaram que se as pessoas quiserem desenvolver este setor produtivo, em Campos dos Goytacazes, será necessário vencer cinco tipos de desafios: o agronômico; o econômico-financeiro, o ambiental, o fundiário , e o sociocultural. O desafio agronômico está relacionado à má distribuição de chuva em Campos dos Goytacazes. O desafio econômico-financeiro significa que agricultores e industriais não têm condições materiais ou recursos financeiros para a promoção da irrigação e outros tipos de tratos culturais necessários. O desafio ambiental se refere à tradicional prática das queimadas dos canaviais por ocasião da colheita, práticas estas difíceis de eliminar devido, entre outros motivos, ao desafio fundiário. Este desafio está relacionado ao fato de que muitas propriedades são muito pequenas para receber as máquinas colheitadeiras, consideradas fundamentais para eliminar as queimadas. Finalmente, na perspectiva desta pesquisa, o maior desafio é o sociocultural, que está relacionado com as antigas tradições de não cooperação em Campos dos Goytacazes, que é uma área particularmente caracterizada por relações hierárquicas desde os tempos da escravidão. Esta pesquisa baseia-se no conceito de capital social tal como trabalhado por Robert Putnam (1996). Embora este conceito tem sido criticado por vários autores nos últimos anos, ele demonstra grande potencial para explicar a situação e os dilemas do setor sucroalcooleiro de Campos dos Goytacazes.