No Brasil existem atualmente milhares de comunidades majoritariamente rurais formadas, em sua maioria, por descendentes de africanos escravizados, as quais produziram histórias de ocupações agrárias complexas, de criação de territórios, de culturas materiais e imateriais baseadas no fator parentesco e no manejo coletivo da terra. Como consequência de processos de mobilização social e de reconhecimento formal por parte do Estado brasileiro, estas comunidades reivindicam o controle das áreas rurais onde estão historicamente inseridas. Entretanto, o fato do Brasil possuir um dos maiores índices mundiais de concentração da terra, faz com que essa demanda não seja facilmente atendida. O presente estudo procurou investigar as principais mudanças na dinâmica social e produtiva da comunidade de Carumbi em Campos dos Goytacazes (RJ), em um contexto de transformações produtivas e disputas por controle do território em seu entorno. De modo a orientar o processo de coleta e análise de dados, a pesquisa se deu por meio de um estudo de caso no qual os procedimentos operacionais adotados se basearam em entrevistas semiestruturadas aplicadas nos moradores de Carumbi. Além disso, também foram realizadas entrevistas com membros de órgãos municipais responsáveis por assessorar comunidades quilombolas. A análise de dados se deu por meio da técnica de “pattern-matching” baseada na separação dos dados em quadros analíticos que permitiram a comparação de informações na busca de padrões e contradições posteriormente relacionadas às proposições teóricas. Os resultados apontam que o principal elemento de fragilização política e social da comunidade é a parca aplicação de políticas públicas previstas ao segmento rural – ou mesmo políticas básicas previstas a todos os cidadãos. Esta falta de garantias resultou num cenário de fragilidade territorial em Carumbi, no qual as recentes lutas materiais e simbólicas relativas ao controle do território modificaram concretamente os modos de vida da comunidade, vindo a desarticular até as formas coletivas de venda da produção. Além disso, foi verificado a falta da auto atribuição identitária quilombola na comunidade estudada, o que indica a existência de uma forte complexidade no interior das comunidades negras rurais bem como a limitação do conceito a elas atribuído. |