Esta pesquisa tem como objeto de estudo o processo de adoecimento e a morte entre os pescadores artesanais na Bacia de Campos, RJ. Este objeto é fruto do espantamento causado na pesquisadora quando leu os dados da pesquisa realizada pela Petrobrás, em 2009, com uma amostra de 10% da população pesqueira da Bacia de Campos. Nesses resultados não era apresentado nenhum pescador com 70 ou mais anos. O que nos trouxe a questão: de quais seriam as causas de adoecimento e morte, supostamente prematura, entre os pescadores artesanais? Para responder a esta pergunta norteadora, esse estudo foi realizado nas comunidades de pescadores artesanais dos Municípios de Cabo Frio e São Francisco do Itabapoana; os aspectos relacionados à causa mortis foram realizados por meio da análise documental das declarações de óbito dos municípios em estudo, e uma análise dos dados do Censo realizado pelo Projeto Pescarte em que o pescador é questionado se possui alguma doença relacionada à pesca. Foram realizadas entrevistas com pescadores doentes e com as famílias dos pescadores que haviam falecido para fazer o nexo da causa de morte com o modo de vida e verificar se existe ligação com as atividades da pesca. Dessa maneira, a pesquisa assumiu um caráter de natureza quali/quantitativa. Os instrumentos utilizados foram a pesquisa documental nas declarações de óbito e nos dados do Censo Pescarte sobre o adoecimento, e entrevista em profundidade com familiares de pessoas que já haviam falecido, o que nos permitiu realizar uma triangulação dos dados obtidos. Ao analisar os dados coletados, os resultados apresentados foram que as causas de morte em sua maioria são por doenças crônico-degenerativas, o que também é comum na população geral, porém, do diagnóstico até a morte do pescador a expectativa de vida é menor. Das 13 entrevistas com as famílias de vítima que haviam morrido, o tempo máximo de sobrevida foi de 1 ano, do diagnóstico da doença até a morte, em decorrência da não busca por serviços de saúde, o que faz com que a doença avance de forma a permitir apenas o tratamento paliativo. Foi possível analisar que as doenças pelas quais os pescadores se consideram acometidos são as que impedem que ele vá pescar. Além disso, pelo fato de terem uma iniciação precoce na pesca, eles não conseguem relacionar as doenças e os acidentes com as atividades que desenvolvem, mas sim como uma casualidade, o que faz com que muitas vezes não busquem realizar a prevenção de doenças e de acidentes. |