Esta tese tem como principal interesse investigar os dilemas da ação coletiva presentes nas comunidades pesqueiras de municípios confrontantes à Bacia Sedimentar de Campos, como forma de identificar os elementos de inibição da ação cooperativa. Utilizou-se para análise destes elementos variáveis que medem o acúmulo de capital social nestas comunidades. Assim, o objetivo principal desta tese é diagnosticar e caracterizar o capital social das comunidades pesqueiras, compreendendo os níveis de participação social dos pescadores, identificando as redes sociais existentes entre os pescadores, os níveis de confiança interpessoal e com as organizações e grupos sociais que interferem na organização social da pesca. Deste modo, este trabalho pretende avançar no estudo da organização social da pesca de importantes municípios confrontantes à Bacia Sedimentar de Campos, no litoral do estado do Rio de Janeiro. A metodologia empregada neste estudo consistiu no uso de dados quantitativos extraídos do Censo da Pesca, realizado pelo Projeto PEA-Pescarte. O estudo utilizou também de dados qualitativos gerados a partir de grupos focais realizados com os pescadores pelo Projeto PEA-Pescarte e de uso de entrevistas semiestruturadas realizadas junto a pescadores que se destacam nas comunidades pela intensa participação nas organizações sociais da pesca. Os resultados apontam para ausência de uma cultura da participação em que pese o alto grau de confiança depositado nas organizações pesqueiras, como a Colônia. Deste modo, os achados empíricos relativos ao associativismo da pesca da Bacia Sedimentar de Campos atestam que as Colônias e Associações não são espaços democráticos de participação, que promovam a inclusão dos pescadores nos processos decisórios. Outrossim, a definição de capital social que vincula confiança, associação e eficiência não pode ser aplicada no contexto social da pesca, visto que a confiança, expressa em certas instituições como a colônia, não se traduz em maior participação. Na maioria dos casos, esta população possui com as organizações sociais uma relação clientelística. Ademais, em que pese à propagação de associações na pesca, a parcela de pescadores não integrados é alta em razão da falta de condições objetivas de alcançar tal integração e pela baixa disposição para participar. Percebe-se uma ausência de solidariedade cívica e um comportamento que se assemelha ao comportamento típico do “familismo amoral”. A analogia com o termo se sustenta visto que todo empreendimento coletivo dos pescadores está restrito à esfera privada em razão dos altos custos existentes na generalização de iniciativas coletivas, devido às precariedades materiais que impedem os pescadores de alcançar a integração social. |