A lagoa Feia é a maior das 132 lagoas existentes na região Norte Fluminense. Ocupa partes dos municípios de Quissamã e Campos dos Goytacazes em uma área de aproximadamente 200 km². As regiões de baixada que compõem a bacia hidrográfica da lagoa Feia, especialmente no seu entorno,
apresentam baixa declividade e são naturalmente suscetíveis a alagamentos nos períodos de chuva. Durante esses períodos, o espelho d’água se ampliava até que a barra da lagoa se rompia, naturalmente. Com o objetivo de minimizar esses alagamentos para ampliar as áreas de cultivo e pastagem, o pioneiro José de Barcelos Machado abriu o canal do Furado em 1688, o que se configurou na primeira grande intervenção antrópica no regime hídrico da lagoa Feia. Progressivamente foram sendo implementadas obras para a ampliação de áreas cultiváveis, especialmente motivadas pela ampliação da cultura da cana de açúcar, o “carro chefe” da economia da região. A partir do século XIX, vários estudos técnicos são elaborados através de órgãos públicos e Comissões de Saneamento com a finalidade a subsidiar intervenções no sistema hídrico regional. A partir da criação do Departamento Nacional de Obras de Saneamento DNOS, em 1940, são erigidas inúmeras obras na bacia hidrográfica da lagoa Feia, incluindo drenagem de áreas alagadiças, aberturas de barras, retificação de cursos d’água, abertura de canais artificiais e construção de diques de contenção. A construção do Canal da Flecha em 1944 marcou o início de um período em que a interferência antrópica no nível da lagoa Feia se eleva a um novo patamar. Isto evidenciado pela expressiva redução do espelho d’água de 290 km² em 1939 (imediatamente anterior à construção do canal da Flecha) para 200 km² em 2010. Recentemente, produtores rurais e pescadores têm relatado processos de dessecamento de corpos hídricos, redução de
áreas de lagoas e salinização de corpos d’água. A lagoa da Ribeira, antigo braço da lagoa Feia, localizada no município de Quissamã, tem se mostrado especialmente sensível às manobras de abertura e fechamento das comportas, uma vez que a mesma se localiza em cota média mais elevada que a
lagoa Feia, com a qual se comunica por meio de um canal. Neste trabalho buscou se avaliar a procedência desses relatos e os possíveis impactos gerados pela operação do sistema de controle de nível na lagoa Feia e seu entorno. Para se atingir este objetivo foram realizadas entrevistas com os
principais atores sociais envolvidos, levantamento de dados junto aos órgãos públicos, pesquisa de campo para diagnóstico das condições da lagoa Feia e seu entorno e análises laboratoriais da água. |