A tese teve o objetivo geral de avaliar os níveis de mercúrio (Hg) e a composição elementar e
isotópica do carbono e do nitrogênio na cadeia alimentar do ecossistema de manguezal através
de três espécies de caranguejos, investigando a relação entre hábitos alimentares, nível trófico
e biomagnificação. O estudo foi realizado nas regiões Sudeste (área 1), Nordeste (área 2) e
Norte (área 3) do Brasil, utilizando um manguezal como modelo de estudo para cada região.
As áreas de estudo foram: área 1 - manguezal do estuário do rio Paraíba do Sul, Rio de Janeiro;
área 2 - manguezal do estuário da Barra do rio Mamanguape, Paraíba; área 3 - manguezal do
estuário de Caeté, Pará. Nos manguezais foram coletadas as espécies de caranguejos (Ucides
cordatus, Aratus pisonii e Goniopsis cruentata), suas prováveis fontes alimentares (folhas
verdes, folhas senescentes e artrópodes) e sedimentos superficiais. No capítulo 1 foi apresentada
uma revisão bibliográfica sobre a aplicação dos isótopos estáveis e as principais ferramentas
acessórias usadas na modelagem das cadeias alimentares aquáticas. Foram evidenciados os
principais pontos críticos e avanços nos modelos estatísticos utilizados em estudos de ecologia
trófica, além de informações sobre seus pontos fortes, limitações e perspectivas. No capítulo 2
foram abordados as preferências alimentares, estrutura trófica e nicho isotópico dos caranguejos
em cada área de estudo. Os resultados mostraram variações entre as espécies e áreas, não sendo
observado um padrão geral na preferência alimentar e nicho isotópico dos caranguejos. Tais
informações contribuem para um melhor entendimento da ecologia trófica das comunidades e
são fundamentais para o monitoramento e conservação de todo o ecossistema, uma vez que as
espécies tem papel significativo na dinâmica de nutrientes, matéria orgânica e fluxo de energia.
O capítulo 3 fecha o trabalho apresentando as concentrações de Hg total em associação às razões
elementares (C:N)a e isotópicas (δ13C e δ15N) nas espécies de caranguejos e nos demais
compartimentos analisados (folhas, artrópodes e sedimento). Os resultados sugerem a
ocorrência da biomagnificação do Hg na cadeia alimentar da área 1 e em menor proporção na
área 3. A avaliação dos níveis de Hg nos caranguejos não indica risco direto de consumo pela
população humana. Contudo, em áreas com potencial de biomagnificação, organismos de níveis
tróficos superiores podem vir a ultrapassar as concentrações de Hg permitidas. Isso reforça a
necessidade de monitoramento constante dos níveis de contaminação das regiões costeiras
prevenindo sérios danos à qualidade do ecossistema e à saúde humana. |