A importância econômica e ecológica do serviço de polinização tem sido demonstrada
em trabalhos recentes e muita atenção voltada ao conhecimento das abelhas nativas
para sua utilização racional em áreas naturais e agrícolas. Dentre essas se encontram
as mamangavas do gênero Xylocopa. No norte do estado do Rio de Janeiro, Xylocopa
ordinaria e Xylocopa frontalis são indicadas como espécies essenciais à produção de
frutos nos plantios de maracujá-amarelo e na polinização de plantas nativas. Este
trabalho tem o objetivo de analisar a biologia de X. ordinaria e X. frontalis na região
norte do estado do Rio de Janeiro, bem como seus comportamentos de nidificação,
fornecendo dados ecológicos à conservação e manejo sustentável destas abelhas. O
estudo foi realizado entre ago/2006 e dez/2007 em um Rancho de Criação de Abelhas
na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), onde fêmeas e machos destas
espécies foram observados quanto ao comportamento em ninhos. Descrições dos
comportamentos de escolha do substrato, fundação de ninhos, desidratação de néctar
e interações entre indivíduos co-genéricos foram analisadas. A atividade diária foi
observada em indivíduos marcados com tinta e numerados no tórax. Ninhos de ambas
as espécies foram abertos para estudo da estrutura interna e análise polínica do
aprovisionamento. As fêmeas de X. ordinaria e X. frontalis utilizaram Eucalyptus sp.,
Pera glabrata e Terminalia sp. como substratos de nidificação, enquanto colmos de
bambu foram utilizados somente por X. frontalis. A fundação de ninhos novos de X.
frontalis ocorreu entre dez e abril, enquanto que para X. ordinaria este processo foi
observado durante todo o ano. Entretanto, ninhos ativos de ambas as espécies podiam
ser observados ao longo do ano. Fêmeas reutilizaram ninhos previamente escavados
por outras fêmeas da mesma espécie. Para ninhos de X. ordinaria observou-se maior
número de canais em substratos com maior circunferência. A largura dos canais dos
ninhos e dimensões das células de cria de X. ordinaria foram menores do que as
observadas para X. frontalis. Contudo, não houve diferença significativa quanto às
dimensões das células de machos e fêmeas da mesma espécie, ocorrendo tendência à
produção de maior número de fêmeas em ninhos de ambas as espécies. Fêmeas
investem a maior parte do tempo em atividades dentro do ninho, seguida de coletas de
néctar, pólen e desidratação de néctar, enquanto machos realizam apenas vôos
esporádicos. A temperatura e/ou umidade relativa influenciaram fracamente o tempo de
duração dos vôos para coleta de pólen ou néctar, sendo que o tempo investido por
fêmeas nas coletas de pólen e néctar não diferiu significativamente entre os
comportamentos, nem entre espécies. Os recursos polínicos utilizados por X. ordinaria
e X. frontalis apresentaram uma sobreposição maior que 40%. Embora sejam espécies
poliléticas, ambas apresentaram grande constância floral no aprovisionamento de suas
células de cria. Cissites maculata (Coleoptera) e uma espécie de Diptera foram os
inimigos naturais encontrados nos ninhos. Embora não tenham sido encontradas
diferenças significativas no comportamento de X. ordinaria e X. frontalis, aspectos da
arquitetura dos ninhos e do ciclo reprodutivo, como período e quantidade de prole
produzida por ano, devem ser considerados na escolha destas espécies para a
conservação e manejo sustentável. |