O objetivo principal deste trabalho foi avaliar se uma área de deposição de
sedimento no Rio Paraíba do Sul (RPS) apresenta uma dinâmica similar às áreas de
transição entre a água do canal fluvial e intersticial, denominadas de zonas
hiporréicas. Entre Agosto e Novembro de 2006, amostragens foram realizadas em
uma área de deposição de sedimentos a aproximadamente 10 km do estuário do
RPS, na região do Baixo Paraíba. A estratégia de amostragem consistiu na
determinação de dois transectos com 12 pontos de amostragem. Em cada ponto
foram coletadas amostras de água intersticial e também no canal fluvial. Ainda,
foram realizadas amostragens de sedimento em cinco destes pontos. Eh e o nível da
água foram mensurados in situ. No laboratório o sedimento foi preparado para
determinar a granulometria e porcentagem de carbono e nitrogênio totais. As
amostras de água foram analisadas para pH, condutividade elétrica e alcalinidade
total. Após filtração, COD, N-NO3-, Cl-, SO42-, N-NO2-, N-NH4+, P-PO4-, P-PTD e SiSiO2, foram determinados conforme métodos padrão. Os resultados foram corrigidosde acordo com a concentração de cloreto, a fim de minimizar os efeitos da
evaporação e precipitação. As análises estatísticas foram realizadas através de
testes gráficos para os valores medianos das variáveis e, através do
"fuzzyclustering", para a relação entre as variáveis e seus padrões de distribuição
espacial. A distribuição granulométrica apresentou predominância de areia grossa
(70%) e média (30%) para todos os pontos, um resultado do processo natural do
transporte de partículas, intensificada através dos processos de uso e ocupação do
solo. As porcentagens do total de carbono (0,7 – 5,5%) e nitrogênio (≤ 0,3%) não
foram elevadas, refletindo a granulometria das partículas ali encontradas. O pH (5,6
– 7,5) apresentou os menores valores nos pontos a montante, e nestes, uma
tendência clara com maiores valores de pH na superfície. Os valores de Eh (-218 –
247 mV), refletindo a disponibilidade de oxigênio dissolvido, foram menores nos
pontos mais internos e no horizonte A (fundo) onde provavelmente não havia
produção (ausência de luz) e a troca gasosa era menos intensa. Alcalinidade total
(0,2 – 2,6 mEq.L-1) e condutividade elétrica (70 – 295 µS.cm-1) variaram de forma
similar, com os maiores valores observados nos pontos mais internos. Os efeitos da
XIII decomposição e o aumento na concentração de íons em solução são os fatores
relacionados, respectivamente, com a variação destes parâmetros. Os compostos de
nitrogênio apresentaram variações antagônicas. Nitrato (< 0,02 – 299 µmol.L-1) e
nitrito (0,2 – 8,2 µmol.L-1) apresentaram concentrações mais elevadas nos pontos
mais externos (Eh positivo) enquanto que para amônio (0,1 – 95,7 µmol.L-1) estas
foram observadas nos pontos mais internos (Eh negativo). O tipo de metabolismo
influenciado pela disponibilidade de oxigênio dissolvido foi fundamental na
determinação deste padrão. O mesmo também foi observado para sulfato (< 0,02 –
11,9 mg.L-1) que apresentou flutuações semelhantes ao do nitrato. Os processos
metabólicos internos na área de sedimentação também influenciaram o COD (0,6 –
5,8 mg.L-1), apesar deste apresentar um padrão de flutuação diferente do observado
para nitrato e sulfato. Sílica (27 – 520 µmol.L-1), ortofosfato (< 0,03 – 77,7 µmol.L-1) e
POD (< 0,03 – 24,4 µmol.L-1) não apresentaram um padrão definido de variação. Ao
que tudo indica, a decomposição da sílica biogênica, que incrementa a sílica
dissolvida, e o aporte de fósforo do RPS parecem ser as principais fontes destes
nutrientes, respectivamente. O cloreto (3,0 – 21,6 mg.L-1), utilizado como traçador da
diluição ou concentração dos nutrientes, não apresentou um padrão definido.
Contudo, picos em suas concentrações sustentam a hipótese de que os processos
de evaporação e precipitação influenciam pontualmente a concentração dos
nutrientes. A interação dos fatores bióticos e abióticos na área amostrada atuou na
retenção, ciclagem e estocagem de nutrientes. Entretanto, um levantamento mais
detalhado e amplo seria necessário para conclusões concretas. |