Mercúrio em compartimentos bióticos e abióticos do manguezal da foz do Rio Paraíba do Sul (RJ), utilizando a composição elementar e isotópica do carbono e do nitrogênio

Autor Orientador Instituição Programa Nível do Programa Data da defesa
Cynara Pedrosa Fragoso Carlos Eduardo de Rezende UENF Ecologia e Recursos Naturais Mestrado 2 de Dezembro de 2013
Descrição Livre Espécie Substância Química Localização
Estuário, Manguezal, Sedimentos, Fauna, Flor Laguncularia racemosa, Rhizophora mangle e Avicennia germinans (vegetal) egUcides cordatus, Aratus pisonii e Goniopsis cruentata (Animal) Mercúrio São Francisco de Itabapoana
Tags Trabalho completo
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Resumo

O mercúrio (Hg) vem se destacando em pesquisas nas últimas décadas devido a sua notável capacidade de circulação global e por seus efeitos diretos sobre a biota, através dos processos de bioacumulação e biomagnificação, assim como seu elevado potencial toxicológico. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi investigar a acumulação e transferência do Hg total entre os principais compartimentos bióticos e abióticos (vegetação, sedimento e fauna) do manguezal do rio Paraíba do Sul, utilizando como uma ferramenta acessória a composição elementar e isotópica do carbono e do nitrogênio na identificação de fontes e na estruturação da teia trófica. O trabalho tem como primeira hipótese que a vegetação da floresta de mangue, com suas características fisiológicas e morfológicas, influencia na transferência do Hg para os diferentes compartimentos do ecossistema (sedimento e fauna). A segunda hipótese é que as espécies de caranguejos estudadas apresentam diferentes concentrações de Hg no tecido muscular, devido aos seus hábitos alimentares distintos (herbivoria e onivoria), podendo ser observado o processo de biomagnificação do Hg e um fracionamento isotópico do Nitrogênio entre os níveis tróficos do manguezal do rio Paraíba do Sul. O estudo foi realizado em três sítios de amostragem, onde cada sítio apresenta dominância em uma das três espécies vegetais típicas do manguezal do rio Paraíba do Sul (Laguncularia racemosa, Rhizophora mangle e Avicennia germinans). Foram utilizadas amostras provenientes de um experimento de decomposição de folhas de serapilheira das três espécies vegetais e amostras de sedimento coletadas em diferentes distâncias da margem de cada sítio de amostragem. Para a análise da fauna, foram utilizadas três espécies de caranguejos com diferentes hábitos alimentares, Ucides cordatus, Aratus pisonii e Goniopsis cruentata. Os resultados para as folhas em decomposição apresentaram valores de Hg variando de 54 a 346 ng.g-1 para L. racemosa, 98 a 244 ng.g-1 para R. mangle e 73 a 417 ng.g-1 para A. germinans. Em todas as espécies houve um enriquecimento do Hg com o tempo de decomposição, provavelmente associado a uma maior acumulação do elemento por parte da comunidade microbiótica associada (fungos e bactérias), além de um maior aporte de Hg recebido através do material particulado fino carreado diariamente pela incidência da maré. Para o sedimento foram reportadas concentrações médias de Hg em cada área de 81 ng.g-1 (20 a 120 ng.g-1), 62 ng.g-1 (37 a 92 ng.g-1) e 110 ng.g-1 (78 a 129 ng.g-1), para os sítios 1, 2 e 3, respectivamente, com os maiores valores reportados para a área de dominância da A. germinans (Sítio 3). Esses dados sugerem a importância da A. germinans no processo de transferência do Hg para o ecossistema de manguezal, corroborando com a primeira hipótese. Os resultados referentes à composição isotópica no sedimento refletem claramente a matéria orgânica proveniente da vegetação de mangue. Para os caranguejos, U. cordatus apresentou uma concentração média de Hg de 32 ng.g-1, com a assinatura isotópica do carbono (δ13C) de -28,02 ‰ e do nitrogênio (δ15N) de 7,1 ‰. Os resultados foram condizentes com seu hábito alimentar herbívoro, com uma assinatura isotópica equivalente ao reportado para as folhas de serapilheira da vegetação de mangue. A alimentação baseada em folhas contribuiu para os baixos valores de Hg observados. Estas concentrações estão muito inferiores ao máximo permitido pela Organização Mundial da Saúde, não acarretando, portanto, em riscos associados ao seu consumo pela população humana. Já os caranguejos A. pisonii e G. cruentata apresentaram concentrações médias de Hg de 81 ng.g-1 (70 a 95 ng.g-1) e 490 ng.g-1 (254 a 777 ng.g-1), respectivamente, sendo até 20 vezes mais elevadas do que as reportadas para o U. cordatus, refletindo o hábito alimentar onívoro das espécies. Os valores referentes à composição isotópica do C e do N nos caranguejos indicam que G. cruentata (δ15N médio de 11,08 ‰ e δ13C de - 21,97 ‰) encontra-se em um nível trófico acima da espécie A. pisonii (δ15N médio de 8,24 ‰ e δ13C de -24,57 ‰), o que corrobora com seus hábitos alimentares, inclusive tendo A. pisonii como uma de suas potenciais presas. Estes resultados juntamente as diferenças no conteúdo de Hg entre as espécies, indica a ocorrência do processo de biomagnificação do Hg e fracionamento da matéria orgânica entre os diferentes níveis tróficos nos caranguejos do manguezal do rio Paraíba do Sul.

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