O aporte de elementos contaminantes nas bacias de drenagem em
função dos diferentes usos do solo tem aumentado à preocupação quanto ao
alcance desses materiais junto às áreas marinhas, tendo em vista a
complexidade desses ambientes. Estudos envolvendo o cálculo do aporte
desses elementos tóxicos associados ao material particulado em suspensão
permitem elucidar não apenas a dinâmica de transporte, como os mecanismos
relativos a essa associação, levando-se em conta matrizes geoquímicas como
os sedimentos e macrófitas que podem atuar como barreiras naturais e
juntamente com barreiras antrópicas (represas e barragens) podem contribuir
para minimizar o percentual do material transportado. Os estuários são
considerados a principal via de transferência da matéria orgânica dissolvida e
particulada do continente para os sistemas marinhos através dos rios, sendo
considerados ambientes extremamente dinâmicos uma vez que grande parte
dos processos biogeoquímicos que neles ocorrem e são influenciados por
variações sazonais e de marés. O uso de ferramentas como a composição
elementar e isotópica do carbono permite uma maior elucidação dos processos
ecológicos relacionados à origem de matéria orgânica nesses ecossistemas.
Nesse contexto, o estudo tem por objetivo geral estimar o aporte continental de
mercúrio e arsênio (Hg e As) para o oceano em função da variação dos
componentes: vazão, concentração de MPS e concentração de Hg e As;
avaliando a dinâmica de distribuição desses elementos em diferentes matrizes:
material particulado em suspensão, sedimentos e raízes de uma macrófita
flutuante (Eichhornia crassipes) nas estações seca e cheia nos estuários do rio
Itabapoana, canal das Flechas e rio Paraíba do Sul. Os valores de vazão
calculados para estação seca e cheia respectivamente foram no rio
Itabapoana: 16 e 17m³.s-1, canal das Flechas 32 e 49m³.s-1 e no RPS 321 e 1774m³.s-1. Os valores de concentração de material particulado em suspensão para estação seca e cheia respectivamente foram no rio Itabapoana: 18 e 74g/m³, canal das Flechas 80 e 172g/m³ e no RPS 22 e 118g/m³. As concentrações de mercúrio associadas ao material particulado em suspensão para estação seca e cheia respectivamente foram em média: no rio Itabapoana 169 e 173ng.g-1; no canal das Flechas 280 e 220ng.g-1 e no rio Paraíba do Sul 305 e 201ng.g-1. As concentrações de
arsênio associadas ao material particulado em suspensão para estação seca e
cheia respectivamente foram em média: no rio Itabapoana 2,3 e 1,8µg.g-1 ; no canal das Flechas 4,9 e 6,2µg.g-1 e no rio Paraíba do Sul 6,3 e 1,9µg.g-1. Os valores dos fluxos instantâneos de Hg observados nas estações seca e cheia respectivamente no rio Itabapoana foram 52 e 231µg.s-1; no canal das Flechas 908 e 1968 µg.s-1 e no rio Paraíba do Sul 2226 e 42603µg.s-1. Em relação ao arsênio, os valores dos fluxos instantâneos observados nas estações seca e cheia respectivamente foram no rio Itabapoana 689 e 2429µg.s-1; no canal das Flechas 15942 e 48421µg.s-1 e no rio Paraíba do Sul 51738 e 423002µg.s-1. Todos os valores de concentração de Hg e As estão abaixo dos valores de
referência do TEL e PEL. Os valores de aporte de mercúrio e arsênio variaram
em função da variação sazonal característica de cada área dos valores de
vazão, concentração de MPS e concentração de mercúrio e arsênio associados
ao MPS, sendo assim, pode-se inferir que no rio Itabapoana e no canal das
Flechas as interferências antrópicas minimizam a influência sazonal e
governam os níveis de aporte desses elementos ao oceano, enquanto no rio
Paraíba do Sul as diferenças sazonais são mais evidentes e determinam
diferentes níveis de aporte de Hg e As principalmente em função da variação
dos valores de vazão entre as estações. |