O estágio inicial da decomposição do material foliar consiste na lixiviação de compostos solúveis, onde há a remoção de grandes quantidades de compostos orgânicos (30-50%), resultando em perda de biomassa. Tais compostos são liberados como MOD, e a regulação da decomposição e produção dessa MOD é atribuída à lignina. Diversos fatores podem afetar a lixiviação desses compostos solúveis, porém pouca atenção é dada ao efeito da salinidade. O objetivo deste estudo foi quantificar o início do processo de decomposição, sob diferentes forças iônicas, com duas espécies do manguezal do rio Paraíba do Sul (Avicennia germinans e Rhizophora mangle). Folhas senescentes dessas espécies foram coletadas, pesadas (10 g) e colocadas em frascos de vidro com 1,8 L de soluções em diferentes salinidades (0, 10 e 35). Nos intervalos 24, 48 e 168 h foram retiradas alíquotas para medição de condutividade, pH, temperatura e carbono orgânico dissolvido. Ao final do experimento, um extrato foi obtido do lixiviado com a MOD eluida em metanol, sendo determinados os fenóis de lignina e a composição elementar e isotópica do carbono e nitrogênio no extrato e nas folhas. Foi observada uma perda de massa e COD evidente através da lixiviação, porém a salinidade parece não afetar. A espécie A. germinans exibiu uma maior perda de massa e liberação de COD em relação a R. mangle. A diferença entre essas espécies pode ser explicada pelos altos níveis de taninos presentes em R. mangle e pelo maior teor de N em A. germinans, assim como sua anatomia foliar (presença de tricomas). A. germinans se destaca como mais importante contribuidora de MOD para o ambiente natural. Os valores de 13C e 15N também não se alteraram em função da salinidade. Ainda assim, deve-se ressaltar o enriquecimento da 13C nas folhas após a lixiviação e os valores mais leves no lixiviado, sugerindo a liberação de compostos deplecionados em C13, como por exemplo, lignina. Os elevados valores de 8 determinados no lixiviado corroboram o fato da lignina se dissolver, sendo liberada como parte da MOD. A. germinans apesar de exibir o maior teor de lignina, apresentou maior lixiviação. Mais uma vez a salinidade parece não influenciar nos rendimentos fenólicos, e consequentemente nas razões de lignina. Porém em virtude da solubilização a razão Ac/Al se eleva, sendo observado valores superiores no lixiviado em comparação com as folhas. As razôes S/V e C/V também são alteradas em função da lixiviação, sendo observados menores valores nos lixiviados. Baseado nisso, a lixiviação tem que ser levada em consideração, pois a MOD ainda “jovem” pode ter uma assinatura mais “antiga” de lignina. Isto significa que parâmetros usados para verificar a decomposição da MO podem ser mal interpretados como uma assinatura de degradação em ambientes onde simplesmente ocorreu uma mudança de fase na MO. Assim, o marcador lignina deve ser usado com cautela e de forma adequada, e sempre que possível em associação a outro marcador. |